cine esquema novo

Começa hoje o Cine Esquema Novo 2009, festival que sempre apresenta alguma coisa diferente, entre novidades e obras de velhas ovelhas negras. Das edições que pude acompanhar, lembro de dois momentos incríveis.

O primeiro foi num debate sobre a identidade do cinema brasileiro dentro da sala de cinema-cofre do Santander Cultural. Com a palavra, estavam Andrea Tonacci, Beto Brant, Otto Guerra e Jorge Furtado. Começou bem. Divulgando pela primeira vez na cidade a sua obra-prima Serras da Desordem, Andrea Tonacci falava sobre suas experiências estéticas do tempo em que viveu longe dos centros urbanos, longe de paredes e construções retilíneas. Também falou do que mudou na sua relação com as cores, de ter na floresta sempre o verde como cor predominante. Até que Furtado começou a falar, primeiro enaltecendo o fato de não existir nenhum movimento no cinema brasileiro atual, dando a entender que sem movimentos, há maior pluralidade na produção. Uma idéia completamente equivocada. Quando penso em movimento, em grupos de artistas que se mantêm próximos de alguma forma, penso sempre em diálogo. E diálogo na arte é fundamental. Uma das coisas que mais lastimo no cinema brasileiro atual é a falta de diálogo entre tudo: filmes, cineastas, idéias, produtores… É cada um com seu filminho e vamos em frente.

E como cineastas falam cada vez menos de cinema, alguém puxou o assunto de sempre: dinheiro, problemas de financiamento, etc. O debate sobre identidade virou debate sobre dinheiro. A partir daquele momento, Tonacci se calou. Furtado tomou a palavra e não parou. Ali ouvi coisas agradáveis como “fazer um filme exige um compromisso com o público, é preciso fazer algo que seja identificável pelo público, já que os filmes são financiados com dinheiro público”. Saímos da arte para entrar numa discussão mais apropriada para um debate sobre transporte coletivo ou saúde pública. Naquele momento, Andrea Tonacci parecia o índio no desfecho de Serras da Desordem. Ele estava ao lado de outros cineastas, pessoas que, teoricamente, vivem, respiram o mesmo universo. Um engano. Um conhecido garante que em determinado momento, Tonacci até saiu de sua cadeirinha no palco para sentar com a platéia e ouvir tudo aquilo. Não lembro disso, mas é uma imagem que finaliza bem.

Outro momento inesquecível foi a exibição das inspiradas obras que Júlio Bressane fez junto com Haroldo de Campos. Filmes que vieram diretamente do acervo de Bressane. O interessante foi que a sessão durou uma hora a mais que o previsto. Depois dos dois filmes programados, começou uma série de cenas alternadas de filmes de Antonioni e Hitchcock. Quase todas cenas de tensão silenciosa, e dá-lhe Intriga Internacional, Deserto Vermelho, Um Corpo que Cai, O Eclipse… Eu estava nessa sessão com uma amiga, ficamos nos perguntando se aquilo fazia parte da obra ou não, já que o filme também trazia uma série de colagens de cenas diversas. Mas no dia seguinte, o mesmo filme foi exibido, sem as cenas de Hitchcock e Antonioni. Provavelmente um estudo pessoal do Júlio Bressane que nos proporcionou uma experiência e tanto.

Serras da Desordem