o show de horrores de nine

Nine é um show de horrores.

O primeiro horror: pra que fazer um musical sem nenhuma música que presta? O que é aquela canção sobre o cinema italiano que a Kate Hudson canta? Fora a melodia pobre, o sujeito que escreveu a letra nunca deve ter visto um filme italiano.

O segundo: ter uma dúzia de mulheres lindas num filme que pretensamente homenageia (ou cita, ou se inspira, ou sei lá o que) o cinema italiano e deixar todas sem a mínima graça. Logo o cinema italiano, reduto de cineastas que sabiam como ninguém filmar uma mulher. A cena em que a personagem de Nicole Kidman canta, numa alusão ao emblemático momento de Anita Ekberg em A Doce Vida, é constrangedora de tão broxante.

Terceiro horror: o que é o cineasta vivido por Daniel Day-Lewis? Tentaram criar uma caricatura lamentável do Godard. Mas a coisa fica realmente preta quando num momento de falta de inspiração, ele coloca a mão no queixo e olha para o nada. Horror.

Horror número quatro: mesmo que o espectador nunca tenha visto nada do Fellini – em quem o filme pretensamente se inspira –, Nine continua sendo uma das piores obras já feitas. Colocado à sombra da obra do italiano então, a coisa se torna dramática. De qualquer forma, Nine é tão ruim que se estivesse à sombra de um filme como Plan 9 from Outer Space, de Ed Wood, o resultado ainda seria triste.

O último horror: é extremamente desagradável quando uma arte se refere a si mesma da forma como Nine faz. Se alguém buscar o cinema através do filme de Rob Marshall (sim, ainda não tinha citado o nome do culpado), encontrará algo extremamente superficial, dispensável. Até pelas citações que o filme também faz, é impossível não lembrar da obra máxima auto-referencial do cinema: O Desprezo, de Jean-Luc Godard, cujo palco também é a Cinecittà. Em determinada cena do clássico godardiano, há a famosa previsão de Louis Lumière pintada na sala de projeção: “o cinema é uma arte sem futuro”. Não seria estranho se Lumière tivesse chegado a essa conclusão após uma sessão de Nine.

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